Sobre auto-estima e mudanças

Desde que comecei a entender o que os "adultos" diziam, eu ouvi que meu cabelo era rebelde, dificílimo de lidar e que deveria dar um jeito nele. Na escola ou entre os coleguinhas, tive apelidos como cabelo duro, bom-bril, cabelo de bruxa entre outros... Nas revistas, televisão e propagandas eu só via meninas de cabelo liso. Cabelo liso é o que há de bom, pensava eu. Cresci estigmatizada com isso. Lembro da primeira vez que alisaram meu cabelo, eu tinha apenas 5 anos. Lembro de ter ficado muito feliz com ele "baixinho", sem aquele volume de sempre. Pensei: agora eu não vou mais ser chamada de cabelo duro. Mas estava errada pois, embora ele estivesse "menos rebelde", ele ainda não era escorrido, ainda faltava algo. Foi por causa disso que mais tarde conheci o secador, a prancha e até o ferro de passar, em algumas ocasiões. Eu finalmente poderia ser aceita. Eu finalmente seria bonita.
Esse foi um pensamento que perseguiu por anos de minha vida. Houve um tempo que se não estivesse com o cabelo pranchado, eu não saía de casa. Deixei de ir à igreja, à festas, entre outros lugares porque meu cabelo já estava a tanto tempo sendo pranchado constantemente, que quando molhado, mostrava-se com volume na raiz, porém com as pontas extremamente esticadas. Foi um tempo terrível, pois eu já não suportava mais isso. Foi quando decidi cortar a parte esticada afim de deixar ele natural. Ter o cabelo curto era mais um desejo infantil, evitado por ouvir que meu cabelo era cheio demais, que cabelo cacheado não combinava curto e blá blá blá! Mas, ainda não havia sido totalmente curada, quando pranchava eu recebia mais elogios que quando natural. "Pranchar valoriza mais o corte" era uma das minhas desculpas, então, por mais um ano eu vivi refém da chapinha.
Foi só no início de 2013 que eu comecei a mudar o pensamento. Talvez eu tenha tido um incentivo, mas quando tomamos decisões do tipo, algo precisa mudar dentro de nós mesmas, senão a coisa desanda. Eu lembro de ter viajado para São Paulo, visitar minha família, e lá lavei os cabelos e por canguinhagem eu não quis pagar cabeleireira para escovar (em casa geralmente minha sobrinha para tinha essa incumbência). Comprei um creme e fiquei modelando ele só para não gastar rsrsrs. Aconteceu que eu realmente gostei de como ele estava. Era ótimo sair sem me preocupar se ia chover ou de chegar após tomar muito sol e poder me jogar de cabeça debaixo do chuveiro. A palavra que definiria essa fase seria: liberdade.
Faz quase dois anos que abandonei a prancha e meus cabelos são outros. Volumosos tal como criança e dando tanto trabalho quanto. Por isso há dias que eu tenho vontade de desistir e me render à escova. Sábado passado, casamento do meu irmão, foi o dia em que perdi a batalha. Me rendi ao secador porque estava me sentindo tão mal em relação à minha aparência que eu ouvi as pessoas que não gostam de cabelo cacheado e ficaram me falando que ele era isso ou aquilo. Escovei o cabelo e enquanto a cabeleireira trabalhava eu me segurava para não chorar. Eu queria voltar alguns minutos e dizer: não, não vou escovar. É só hidratação mesmo... Mas não tinha mais jeito. Lá estava eu fazendo algo que me fez ir insegura e chateada ao casamento. E me lembrei que mais sofrido que ajeitar o cabelo pela manhã, é ficar horas sofrendo com os puxões e com o calor do secador/chapinha E pior, depois ainda não poder me divertir para não suar, correr porque vai chover ou o medo do cabelo "inchar" no meio da festa. Eu precisei de uma situação dessas para perceber o quanto sou mais feliz com meus cabelos naturais. Espero que as outras meninas que estão nesse mesmo processo não precisem de tanto.
Não estou aqui levantando a bandeira dos cabelos cacheados, acho que já tem pessoas suficientes para isso. Mas estou levantando a bandeira do "seja como você se sente bem". Não se importe com o que dizem a seu respeito. Como li no Livro Anna e o Beijo Francês, "quanto mais você sabe quem você é e o que você quer, menos você deixa que as coisas te chateiem". O maior segredo de beleza está em nós mesmos: se eu me sinto bem com minha aparência, quando me disserem o contrário, eu não vou acreditar. Se me olharem demais, não vou pensar que é porque existe algo de errado, mas que estão apreciando. Tento me lembrar disso todos os dias que os meus olhos insistem em captar o contrário no reflexo do espelho.


No início do ano a Dove fez uma ação com mulheres que exemplifica muito bem isso que digo. "A beleza é um estado de espírito".



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