Li e agora indico: A Anatomia de uma Dor - Um Luto em Observação

Foto via @umtantodela
Em 2005, passei por algo que até então, nunca tinha passado em minha mente. Meu pai, no auge de seus 52 anos, veio à óbito e minha família e eu parecíamos estar em um filme de terror sem um "the end". Não era mentira. Meu pai de fato tinha ido embora, e pior, eu não tivera tempo de dizer adeus.

Ele sempre sofreu com bronquite asmática, e portanto, era de costume ter crises de falta de ar e necessitar ir até o hospital receber medicação mais forte. As vezes ia de noite, passava a madrugada e pela manhã, lá estava eu sendo acordada pelo som de sua voz. Eu já estava acostumada a isso, quando chegou um dia que minha mãe voltou sozinha, e com o semblante abatido seguido de choro sem fim, percebi que não era o mesmo estado de sempre. E não foi. Meu pai ficou por 28 dias na UTI em coma induzido, até que no dia 20 de novembro, à 00:30 ele faleceu.

Durante o período em que ele esteve na UTI só pude visitá-lo uma vez. Ele estava inconsciente, mas como eu tinha visto na televisão diversas vezes que a pessoa mesmo em coma, escuta tudo que dizem a ela, tratei de dizer o quanto sentia saudade e o quanto o amava. E segurei o choro enquanto estava lá. Eu de fato tinha esperanças que ele sairia de lá, e essa seria mais uma de suas incríveis história de fé e mudança. Não foi. E por muito tempo eu não entendi. Por muito tempo eu questionei a Deus porque tinha levado meu pai de mim. Ano passado, no dia dos pais, algo em mim mudou, foi o que escrevi no texto Dia dos Pais. E de lá para cá eu vinha aceitando. Foi quando me apresentaram o livro de C.S. Lewis, A Anatomia de uma Dor - Um Luto em Observação, e eu me interessei em ler.

Esse livro é maravilhoso. Ele não foi um livro escrito exatamente com a finalidade de ajudar outros, é a junção de fragmentos de relatos do Lewis, algumas vezes em diário, outras em simples rascunhos, que posteriormente foi organizado e publicado pelo seu enteado. As páginas do livro são repletas de pensamentos de Lewis ao perder sua amada esposa e o seu descontentamento e luto perante a situação.

Me vi nas páginas, pois muitos dos questionamentos dele foram os meus. Me vi muito egoísta. querendo que meu pai tivesse sobrevivido sem levar em consideração que ele poderia voltar do coma repleto de sequelas que o impediriam mais ainda de viver. Notei a importância de amar e receber amor enquanto temos tempo. 

Hoje esse é o livro que eu recomendo que todos leiam, principalmente se estiverem passando por momento de luto e dor. Através dele eu pude modificar meu pensamento e analisar a vida e a morte de uma maneira diferente. Ele mudou minha ótica e me ajudou a superar.

Deixo agora alguns trechos para você ter noção do quão maravilhoso esse livro é:

“Nesse meio tempo, onde está Deus? Esse é um dos sintomas mais inquietantes. Quando você está feliz, muito feliz, não faz nenhuma ideia de vir a necessitar dEle, tão feliz, que se vê tentado a sentir suas reivindicações como uma interrupção; se se lembrar e voltar a Ele com gratidão e louvor, você será – ou assim parece – recebido de braços abertos. Mas, volte-se para Ele, quando estiver em grande necessidade, quando toda outra forma de amparo for inútil, e o que você encontrará? Uma porta fechada na sua cara, ao som do ferrolho sendo passado duas vezes do lado de dentro. Depois disso, silêncio.”

“Não é possível ver nada de maneira adequada enquanto os olhos estiverem embaçados de lágrimas. Você não pode, na maioria das situações, conseguir o que deseja se o fizer desesperadamente: o resultado é que não conseguirá aproveitá-lo ao máximo."

“Aos poucos passei a sentir que a porta não está mais fechada e aferrolhada. Será que foi minha necessidade frenética que a fechou na minha cara? Quando nada há em sua alma exceto um grito de socorro tavlez seja o exato momento em que Deus não o pode atender: você é como o homem que se afoga e que não pode ser ajudado por tanto se debater. É possível que seus gritos repetidos o deixem surdo à voz que você esperava ouvir.”

A Anatomia de Uma Dor – Um Luto em Observação, C. S. Lewis. Ed. Vida.

Publicidade