Despedida



Outro dia eu postei aqui que "Lar é onde o coração está" e eu continuo partindo desse pressuposto.

Após 16 meses, meu coração está de mudança. Vou levá-lo para mais perto de SP, dos rolês e do trabalho. Devo dizer que eu sonhei muitos dias com isso, aliás, antes de vir para São Paulo eu já imaginava um lugar como o que vou hoje.

Mas, sabemos que há tempo para todas as coisas e esse tempo demorou 3 anos para se concretizar. Toda vez que mudei de casa, aconteceu uma melhora e eu não consigo ignorar o quanto Deus tem sido bondoso comigo nos últimos tempos.

Eu deixo para trás tantas histórias, tantas memórias boas e também não tão legais, mas que me fizeram ser quem sou hoje. Sou mais resiliente, ainda consigo ver o copo meio cheio na maioria dos dias e sigo buscando propósitos maiores que me façam levantar todas as manhãs com fôlego e vigor.

Acima temos a última foto na casa que abrigou à mim e meus sonhos nos últimos 16 meses. Apesar da lonjura, foi difícil fechar a porta pela última vez sem que um filme passasse em minha mente e algumas lágrimas rolassem. Em todo tempo só consigo pensar nas fases que temos que viver e como Deus tem sido bom comigo. 

Casinha, você foi resposta de oração, de uma menina que queria ter um cantinho para chamar de seu. Da cor das paredes ao silêncio dos vizinhos, você foi o que eu pedi. Agora te deixo para seguir mais um sonho, mas sem esquecer e ser grata pelas memórias que guardo com carinho.

Desculpa, eu gosto de metáforas

Photo by Patrick Perkins on Unsplash
Notei que se apaixonar em tempos de apps, tem sido semelhante a escolher um apartamento. Você pesquisa nos sites dentro do perfil que deseja, se ele está ocupado, ok, só pesquisar mais um pouco e tem outro à um clique de distância.

Você marca de visitar e vê que que fotos e vida real não são tão semelhantes. Na foto a altura era maior ou menor, o som ambiente não é agradável, a vista das janelas não te agradam, você se sente sufocado ou tem sensação de paz ao estar naquele ambiente.

Naturalmente você procura os benefícios quando gosta um pouco e os defeitos quando já de cara não curte. Às vezes, você vai querer visitar mais uma vez para ter certeza que é algo muito bom, em outras bastará uma visita para ter certeza de que foi mais uma decepção. Se você gosta, faz muitas perguntas. Quer saber do que está incluso no contrato, histórias e afins. Se não gosta, finge interesse, mas não é convincente o suficiente para fazer o corretor insistir com você.

Mesmo que o site tenha fotos, vídeos, textos tudo explicadinho, você não vai querer continuar esperando ou fechar negócio sem ver pessoalmente. Você quer saber as sensações que vai sentir, quer ter certeza que é o lugar ideal... E nesse ponto me perguntei: Não seria mais fácil já ir à moda antiga, olhar onde houvessem placas sinalizando a disposição? Talvez. Mas no site temos a facilidade de verificar mais de um ao mesmo tempo, posso marcar em uma só semana para analisar todos e não prolongar a espera.

É uma saga bem difícil, a de achar o que depois você vai chamar de lar. Às vezes, você vai abrir mão de detalhes que parecem não fazer muita diferença frente à sua lista de prioridades, pode ser a cor das paredes, a distância até seu trabalho, o silêncio ou a falta dele, mas se você gostar realmente, nenhuma dessas coisas serão relevantes.

Quando você gosta tanto à ponto de fazer uma proposta, entra em uma fila de pessoas igualmente interessadas, e tem que se mostrar uma pessoa extremamente interessante, responsável e gentil para ser escolhida pelo proprietário.

Outras vezes você vai desistir, dizer que é uma procura muito árdua e vai duvidar se vale a pena continuar procurando. Talvez você se canse a ponto de nem querer mais visitar nada, porque é realmente cansativo investir tempo em algo e se frustar na maioria delas.

Mas um dia, depois de um árduo dia de trabalho, você também pode receber a notícia de que foi aprovado na análise de crédito e que finalmente sua espera acabou. Após uma longa procura e espera, você finalmente achou um lugar para chamar de seu (mesmo que seja por tempo indeterminado).

(Sobre o apartamento eu achei. Os apps? Continuo desacreditando...)

Diário de Bordo #1



Sábado, 03 de Agosto , 16:45

Hoje passei por uma problema na aeronave enquanto estava viajando para Salvador e nisso, a reflexão nossa de cada dia teve que aparecer.

Confesso que um filme passou pela minha cabeça. Aproveitei para ver as últimas mensagens que eu mandei para os meus amigos e familiares, parei para pensar se estava chateada ou brigada com alguém. Fiquei me perguntando: e se os pilotos não detectassem o problema no equipamento de despressurização, o avião não tivesse pousado em Guarulhos e eu não chegasse ao meu destino final, o que de bom eu teria deixado para trás? Eu fiz diferença na vida de alguém? As pessoas sentiriam a minha falta? O que guardariam de Priscila Regis ou o que saberiam da @priscaregis? A vida é mesmo um sopro. Em um dia você está rindo e brincando e no outro, pode cochilar e não acordar.

Pousamos em Guarulhos e quando pude ligar a internet, vi meus últimos stories. Não me envergonhei deles, pelo contrário, por mais idiotices que sempre às vezes contenha neles, estou feliz por estar sendo eu mesma nos últimos tempos. Tenho vivido da melhor maneira que eu posso, tenho sonhado e realizado, tenho trabalhado muito e tenho sido eu mesma nas redes sociais e fora dela também (mesmo que com filtros e uma muita make).

Eu tenho dito Eu te amo sempre que tenho chance e para quem realmente merece. Eu tenho pedido perdão quando necessário. Eu ainda estou muito longe de ser a melhor pessoa da face da terra, mas estou feliz de estar tentando um pouquinho a cada dia. Mesmo às vezes perdendo a paciência com as pessoas que andam devagar no trajeto Linha Lilás do metrô x Linha Esmeralda de trem. Mesmo me estressando com quem fura fila no terminal Capão Redondo.

Se eu morresse, e olhassem meu blog, meu face e meu instagram, veriam que levei uma vida quase perfeita baseada, claro, nos recortes que eu faço e permito que vejam. Quem convive diariamente comigo no trabalho, lembraria da Escola Priscila Regis de Etiqueta, de como eu falo demais quando me dão moral e de como eu posso ser sem filtro quase sempre.

Infelizmente, se eu morresse, seria um dia infeliz para o dono da casa onde eu moro, pois enquanto lembrava se estava brigada com ou alguém ou se estava devendo algo, me lembrei que o dia anterior que eu só pensava em #sextar e nas férias, me esqueci de pagar o aluguel. HAHA

Bom, brincadeiras às parte, eu sinto que se eu fosse hoje, eu iria feliz sabendo que eu vivi, chorei e sorri, sonhei e realizei muitas vezes, mas não perdi a minha fé e não abandonei minhas convicções (algumas foram quase rsrs) e agora faço terapia.

Enfim, se você leu até aqui, Parabéns e Obrigada, você me ama mesmo (ou é apenas curioso) e está me dando um real de moral. Agora me dê outro e diz aí os comentários:

O que você pensaria ou diria se a pessoa que vos escreve fosse para o andar de cima?


Com amor e uma experiência de quase-quase-morte,
Priscila Regis

Obs.: Caso você tenha ficado curioso, assim que o avião pousou eu Guarulhos eu paguei o aluguel, fiquem tranquilos que eu não sou o Seu Madruga haha

Caminhos

Foto por  Joillyane
Senti que eu estava parando. Logo eu, que não aguento esperar do lado direito da escada rolante, que corre mais do que anda e que está sempre acelerando o passo a fim de evitar atrasos.

Eu não posso culpar ninguém senão a mim mesma. Eu me permiti isso. Eu achei que era o certo e necessário a se fazer, mas à medida que o tempo passava, o meu coração se apertava mais e eu percebi que muitas coisas tinham mudado.

Custei a aceitar que o mapa que eu seguira por tanto tempo não me levaria ao que eu esperava no início. Custei a aceitar que o tempo indicado no gps seria maior do que o que eu pretendia esperar e aos poucos, fui forçada a mudar a rota, que prontamente foi ajustada pelo gps e foi me levando onde eu nem sequer sonhei.

Embora agora ele não me diga qual o destino final, sei que não é o mesmo caminho de antes. Preciso seguir sozinha e descobrir o caminho que vai mudando e melhorando a cada dia. Nesse caminho eu tenho me encontrado com o passado e com os medos antigos, além de parar para descansar mais do que antes. Nem todos os dias são fáceis, vez ou outra eu acho uma pedra no caminho. Às vezes caio, choro, mas logo em seguida me levanto, afinal ainda não cheguei ao meu destino final.

Se me encontrar pelo caminho, me ofereça uma água, um acalento, um sorriso. Sei que haverão dias que eles serão extremamente necessários pra eu continuar seguindo.

Era sol que me faltava

Photo by Nick Fewings on Unsplash
Mais um casal que eu admirava se desfez. Acabaram de anunciar no instagram deles, na mesma conta onde eles compartilhavam com o mundo a alegria de uma vida compartilhada. Foi daqueles posts que você não sabe se curte, não curte ou o que comenta.

Já faz um tempo que eu vinha remoendo esses pensamentos na minha cabeça. Eu realmente fiquei triste com essa e muitas outras separações de casais que eu "shipava" e devo confessar que saber de seus rompimentos me abalaram um pouco, mas também me fizeram pensar sobre a imagem que criamos de nós e de nossos relacionamentos na internet.

Quando um fim semelhante chegou para mim, eu senti de perto o desprazer de ter pessoas questionando os motivos e dizendo "ué, mas vocês eram perfeitos um para o outro". Me culpei porque notei o quanto eu demonstrava isso de alguma forma. Fiquei feliz por não ter feito nenhum comentário indelicado na foto de alguém que anunciou um rompimento. Me senti mal por um dia ter dito a frase "ah, mas quem sabe vocês não voltam?" para uma amiga que terminou um relacionamento por perceber que ele não a levaria a nenhum lugar além das decepções.

Na internet, somos sempre felizes, não tem brigas, não tem desavenças, ciúmes aparentes. Não tem bafo ou mal humor, não tem falta de dinheiro ou doença... E nem digo que eu gostaria de ver essas coisas o tempo todo, porque na real não é o que a gente procura mesmo ao rolar o feed. Mas o fato é que estamos tão acostumados a viver realidades cheias de filtros e pensadas para compor um feed, fora disso, a gente dá unfollow e não quer ter igual.

Eu tenho vivido os meus dias tentando não olhar a vida com o filtro do outro. Afinal, cada um tem o seu tempo, seu momento, suas dificuldades e vitórias. O mal de olhar a grama do vizinho sempre mais verde, é ser picado pelo bichinho verde ( inveja, caso não tenha pego a referência rs). Se a gente vive as nossas vitórias comparando às do outro, certeza que vamos viver uma vida mesquinha e sem proveito. Talvez a grama que você olha esteja verde aos seus olhos, mas o dono não veja bem assim. Depende

Nesse momento me lembro da música do Tiago Iorc, Era sol que me faltava:


A última vez que você se deixou
Livre, sem se retocar
Sem se Instagramear
Onde foi, onde foi

Me lembra da época que eu fazia de tudo por uma foto perfeita. Não que hoje eu tenha deixado isso totalmente de lado, mas antes era bem mais. Lembro que isso fazia com que todos achassem que eu estava "cheia da grana", viajando e visitando tudo que é canto, quando eu até saía mesmo, mas sempre buscando os programas mais free que você respeita ou, como se diz aqui em Sampa, na faixa hahaha.

A gente perde tanto tempo desenhando um mundo perfeito nas redes sociais e na vida, que esquece realmente o que é viver a verdade, que é ter o direito de sentir tudo e nada, sem medo de julgamentos alheios. Eu tenho me permitido viver os dias sem ter medo de demonstrar e mostrar o que eu quero e o que sou, me preparando para as coisas boas que hão de vir. Que tal você tentar também?

Li e agora indico: A Anatomia de uma Dor - Um Luto em Observação

Foto via @umtantodela
Em 2005, passei por algo que até então, nunca tinha passado em minha mente. Meu pai, no auge de seus 52 anos, veio à óbito e minha família e eu parecíamos estar em um filme de terror sem um "the end". Não era mentira. Meu pai de fato tinha ido embora, e pior, eu não tivera tempo de dizer adeus.

Ele sempre sofreu com bronquite asmática, e portanto, era de costume ter crises de falta de ar e necessitar ir até o hospital receber medicação mais forte. As vezes ia de noite, passava a madrugada e pela manhã, lá estava eu sendo acordada pelo som de sua voz. Eu já estava acostumada a isso, quando chegou um dia que minha mãe voltou sozinha, e com o semblante abatido seguido de choro sem fim, percebi que não era o mesmo estado de sempre. E não foi. Meu pai ficou por 28 dias na UTI em coma induzido, até que no dia 20 de novembro, à 00:30 ele faleceu.

Durante o período em que ele esteve na UTI só pude visitá-lo uma vez. Ele estava inconsciente, mas como eu tinha visto na televisão diversas vezes que a pessoa mesmo em coma, escuta tudo que dizem a ela, tratei de dizer o quanto sentia saudade e o quanto o amava. E segurei o choro enquanto estava lá. Eu de fato tinha esperanças que ele sairia de lá, e essa seria mais uma de suas incríveis história de fé e mudança. Não foi. E por muito tempo eu não entendi. Por muito tempo eu questionei a Deus porque tinha levado meu pai de mim. Ano passado, no dia dos pais, algo em mim mudou, foi o que escrevi no texto Dia dos Pais. E de lá para cá eu vinha aceitando. Foi quando me apresentaram o livro de C.S. Lewis, A Anatomia de uma Dor - Um Luto em Observação, e eu me interessei em ler.

Esse livro é maravilhoso. Ele não foi um livro escrito exatamente com a finalidade de ajudar outros, é a junção de fragmentos de relatos do Lewis, algumas vezes em diário, outras em simples rascunhos, que posteriormente foi organizado e publicado pelo seu enteado. As páginas do livro são repletas de pensamentos de Lewis ao perder sua amada esposa e o seu descontentamento e luto perante a situação.

Me vi nas páginas, pois muitos dos questionamentos dele foram os meus. Me vi muito egoísta. querendo que meu pai tivesse sobrevivido sem levar em consideração que ele poderia voltar do coma repleto de sequelas que o impediriam mais ainda de viver. Notei a importância de amar e receber amor enquanto temos tempo. 

Hoje esse é o livro que eu recomendo que todos leiam, principalmente se estiverem passando por momento de luto e dor. Através dele eu pude modificar meu pensamento e analisar a vida e a morte de uma maneira diferente. Ele mudou minha ótica e me ajudou a superar.

Deixo agora alguns trechos para você ter noção do quão maravilhoso esse livro é:

“Nesse meio tempo, onde está Deus? Esse é um dos sintomas mais inquietantes. Quando você está feliz, muito feliz, não faz nenhuma ideia de vir a necessitar dEle, tão feliz, que se vê tentado a sentir suas reivindicações como uma interrupção; se se lembrar e voltar a Ele com gratidão e louvor, você será – ou assim parece – recebido de braços abertos. Mas, volte-se para Ele, quando estiver em grande necessidade, quando toda outra forma de amparo for inútil, e o que você encontrará? Uma porta fechada na sua cara, ao som do ferrolho sendo passado duas vezes do lado de dentro. Depois disso, silêncio.”

“Não é possível ver nada de maneira adequada enquanto os olhos estiverem embaçados de lágrimas. Você não pode, na maioria das situações, conseguir o que deseja se o fizer desesperadamente: o resultado é que não conseguirá aproveitá-lo ao máximo."

“Aos poucos passei a sentir que a porta não está mais fechada e aferrolhada. Será que foi minha necessidade frenética que a fechou na minha cara? Quando nada há em sua alma exceto um grito de socorro tavlez seja o exato momento em que Deus não o pode atender: você é como o homem que se afoga e que não pode ser ajudado por tanto se debater. É possível que seus gritos repetidos o deixem surdo à voz que você esperava ouvir.”

A Anatomia de Uma Dor – Um Luto em Observação, C. S. Lewis. Ed. Vida.

De amores e desamores



Achei que havia encontrado o amor na casa ao lado. Éramos amigos e muito novos, mas eu achava que aquele sentimento era real e legítimo. Por isso eu gostava muito de brincar de "casinha", onde éramos marido e mulher e as bonecas nossos filhos. Um dia fui embora daquela casa e só voltei a saber dele quando ele já não brincava mais de casinha, agora ele realmente tinha uma casa e uma família para cuidar. Fingimos que só sabíamos o nome um do outro e segui viagem.

O tempo passou e mais uma vez achei ter encontrado o amor. Ele estudava comigo, morava perto da minha casa  e era meu amigo. Eu o achava inteligente, bonito e ignorava o fato dele ter beijado todas as garotas próximas a mim mesmo sabendo dos meus sentimentos, afinal, achei que nosso primeiro beijo (e o meu da vida toda) seria especial e capaz de realizar o milagre de mudar todo resto. Não demorou muito para eu saber que eu era mais uma na extensa lista dele.

Depois, achei que havia encontrado o amor no garoto da carteira atrás de mim. Ele era inteligente, atleta e (eu julgava na época) um dos mais bonitos da sala. Nem preciso dizer que ele era o mais querido de todas as garotas, né? Pois ele era, sabia e amava isso. E eu? Eu era a garota que não era bonita, mas era legal. E garotos nessa idade não procuram a segunda opção, por isso virei cupido entre ele e uma amiga minha.

Estava desiludida quando achei ter encontrado o amor inusitadamente em uma festa. Ele foi literalmente atirado em cima de mim e depois disso não nos largamos mais... Quer dizer, não até ele tocar uma música para mim em um dia e no seguinte nem olhar na minha cara sem me dar mais explicações. Anos depois ele me disse que fui eu quem sumi. E como boa garota que sou, fingi que acreditei.

Achei ter  encontrado o amor no garoto novo da cidade. Por ele, eu ajoelhei e orei para Deus amolecer o coração da minha mãe para que ela deixasse eu namorar mesmo sendo tão nova. Ele parecia a junção do menino mais fofo e inocente que eu havia conhecido. Me falava de casamento e de quantos filhos ele queria. Eu, no auge dos meus 13 anos de sinceridade dizia: "mas quem disse que eu vou me casar com você?" E ele prontamente ignorava e voltava a sonhar como se aquilo fosse acontecer no dia seguinte. Não demorou para que o menino inocente me contasse que para me ver, mentia e roubava o pai, como se aquilo fosse a coisa mais sensata a se fazer. Mais uma vez eu disse adeus e tive de seguir em frente, enquanto ele seguia, graças a Deus, para outro estado.

Pensei ter encontrado o amor no garoto que há anos eu admirava, mas que depois de muito ele também me notou. Ele disse que amava meu estilo, meu gosto musical e minha autenticidade. Porém, me beijou logo após eu dizer que eu não queria ficar por ficar, mesmo eu pedindo para esperar um tempo. Eu na época achei fofo e tenho que dizer que irresistível, só hoje me dei conta de que ele passou por cima da minha vontade e do que eu acreditava. Com o tempo, ele passou a criticar as roupas que antes elogiara, questionar porque eu não era vaidosa como as outras meninas e porque eu não fazia isso ou aquilo diferente. Eu via que não teríamos futuro, na verdade fui avisada e incentivada a acabar eu mesma com tudo, mas não quis. Um dia ele disse que precisávamos conversar, coloquei minha melhor roupa, arrumei o cabelo da melhor maneira, pintei as unhas e ainda desenhei florzinhas (o que o deixou bem surpreso), bem no dia que eu fui feliz ao encontro do nosso término.

Achei que havia encontrado amor no garoto gentil que em nossa primeira conversa, foi capaz de cativar totalmente minha atenção. Ele parecia extremamente inteligente (sim acho que temos um padrão aqui), carismático e por que não, bonito. Se havia tido o amor a primeira vista, em nossas conversas eu perdia mais o controle da situação. Mal sabia eu que esse duraria mais que todos os outros, mas ao mesmo tempo não valeria de nada. Se eu soubesse que viveria um período de abnegação, falta de amor próprio e ilusão, não teria saído de casa com minhas amigas naquele dia. Pensava que ele não se envolvia em relacionamentos superficiais, que só namoraria com a prometida, que se casaria com a mesma e que era o príncipe encantado. Mas depois descobri que o príncipe beijava várias cinderelas acordadas por aí, só não fazia alarde. E eu, gata borralheira, mais uma vez percebi que esse conto de fadas não era o meu.

Pensei ter encontrado amor no garoto que disse estar perdidamente apaixonado por mim. Porém, no momento em que pedi que orássemos por tempo, disse que "quando uma não quer, uma terceira quer". Uma semana depois ele atualizou o status e se dizia louco de amores por uma garota que, inclusive, todos diziam que era parecidíssima comigo.

Pensei que encontraria o amor na história perfeita e sem defeitos que montamos e eu desenhei na minha cabeça para não esquecer. Mas quanto mais o tempo passava, mais eu achava páginas inteiras arrancadas e que não combinavam em nada com a história que eu amava contar com brilho nos olhos. Aos poucos o castelo de areia foi levado pela maré alta de descontentamento do cotidiano e as verdades que com ele vinham. Me perdi, deixei de ser eu. Dei passos atrás ou deixei de os dar, para conseguir acompanhar ele. Porém, nesse ritmo desaprendi a andar e foi necessário reaprender, mas dessa vez mais sozinha do que nunca.

Achei que tinha encontrado amor no garoto que não parava de me fitar, no show de uma banda que eu gostava desde criança, mas que hoje o álbum que eles lançavam na época eu não consigo mais escutar. Eu estava numa vibe "vou curtir a vida" quando ele apareceu. Eu só queria mesmo curtir aquele momento e saber que ele era de outra cidade me animou muito. Porém, quando achei que ele iria embora, ele entrelaçou os dedos nos meus e agiu como se aquele momento fosse durar para sempre. Depois descobrimos que estudávamos na mesma faculdade e foi aí que meu plano desandou. Eu não iria curtir o momento, mas me apaixonar e achar que aquilo realmente iria para frente. Eu acreditei nas mentiras que ele inventava por ter sumido o final de semana inteiro. Eu deixei que ele me chamasse de louca quando a desculpa era tão esdrúxula que nem uma criança conseguia acreditar. Enquanto eu tentava não ser louca, ele conhecia outra garota e a levava à todos os lugares que eu gostaria de ir com ele aos finais de semana. 

Finalmente percebi que o amor estava mais perto do que eu imaginei. Olhei no espelho e notei que eu procurava tanto o amor no outro, que esqueci de buscá-lo em mim. Até porque, em mim sempre foi mais difícil. Mesmo quando pensava achar no outro, percebi que nenhuma das vezes sentia digna do que recebia. Me perguntava o que ele havia visto em mim. Concordava com aquele que escolhia partir ou me trocar pela primeira opção que passasse no meio da rua. Me escondia daquele que poderia ver em mim um par. Acreditava que aceitar erros recorrentes eram melhor do que não ter alguém com erros para estar.

Em todas as vezes que julguei ter encontrado o amor eu errei. Não por não ter encontrado, pois vivi o amor de muitas maneiras e cada uma delas me serviu de aprendizado. Mas errei porque atribui ele ao outro, quando primeiro eu necessitava encontrar em mim.

Dos Tipos de Mulher

Já sonhei ser todo tipo de mulher.

Achei que seria esposa e mãe muito cedo. A realidade da minha família não me permitia sonhar com graduações. Mas Deus tinha um plano diferente para mim. Então sonhei ser graduada. Mal sabia eu que teria no currículo um curso técnico e duas graduações (e logo muito mais especializações - hoje eu consigo vislumbrar essa realidade). 


Apesar de sonhar em formar uma família, confesso que eu admirava muito minhas irmãs. Mães solo que saíram da casa dos pais e me ensinaram que não precisava de um homem para construir nada. Mesmo que a sociedade as tenha julgado tanto, eu tenho orgulho das guerreiras que elas são. Elas não escolheram assumir toda a responsabilidade de uma casa, mas se mantiveram firmes quando foi necessário. Mesmo em situações que muitos não aguentariam.


Não julgue minhas palavras, também e sobretudo, admiro minha mãe. Uma mulher guerreira, esposa, mãe, trabalhadora que já sofreu mais do que eu nessa vida, mas nunca perdeu a fé. Com ela aprendi a amar a Deus e esperar nEle.

Também pude sonhar ao lado de algumas amigas. Cada uma com sua história, suas lutas e vitórias. Com elas aprendi que não preciso ter o mesmo sangue para encontrar uma irmã. Aprendi que as melhores e mais duradouras amizades são feitas de pessoas "diferentemente iguais".

Um dia sonhei ser designer editorial. Trabalhei em assessorias de comunicação e me vi apaixonada pela profissão que havia escolhido. Nesses lugares tive a chance de ter líderes e colegas mulheres. Sem aquela rixa que os filmes românticos mostram. Tenho orgulho de dizer que trabalhei com mulheres que hoje posso chamar de amigas.

De repente, notei que mundo já estava se virtualizado e percebi a necessidade de voltar a estudar para ter uma chance de carreira em uma empresa sólida. Virei estagiária de novo aos 25 anos, dei alguns passos atrás visando pular mais alto. Aí então sonhava ser efetivada. Demoraram 7 meses até meu sonho se tornar realidade. Sigo sonhando galgar maiores posições, sentindo que o tempo continua sendo meu amigo.

Para as mulheres da minha vida, meu muito obrigado por me ensinarem tanto. Um feliz todos os dias. Sigo sonhando um mundo melhor para todas nós.




(A)trás

By Lucas Lenzi
Um dia desses, olhando para trás avistei uma garota. Tinha uma estatura baixa, vestia roupas que entregavam sua pouca idade e a falta de vontade de lavar seu All Star. Seus olhos brilhantes me fitaram e logo seu semblante se transformou. De uma garota que parecia flutuar ao andar eu a vi se transformar em alguém com um ar preocupado somente ao me olhar.

Olhei mais fundo e vi uma garota que amava ler, tirar boas fotos para as redes sociais, fotografias e escrever desde um texto gigante que ninguém lia à historias com personagens muitas vezes reais. Vi uma garota cheia de sonhos e ideais, que amava a família e tinha poucos, porém bons amigos.

Quando pensei em ir até a garota, meu telefone vibrou. Era mais uma notificação, me lembrando de que faz 7 anos que eu e alguém somos amigos em uma das redes sociais (mesmo que eu nem me lembre qual foi a ultima vez que nós trocamos um oi). Então deslizo o dedo na tela, descartando a atualização, me lembro da garota e prontamente me volto para sua direção.

Percebo que é tarde demais, pois ela já correu, está atrás de algum muro. O muro do medo, ou da preocupação do que os outros vão dizer. Talvez seja só o muro da preguiça, das desculpas de que precisa de algo grande, para fazer algo que só depende unicamente de sua dedicação. Talvez só tenha ido dormir, afinal enquanto dormimos, só o despertador é capaz de nos tirar dos sonhos bons,

Alguns dias se passaram e eu continuo procurando a garota. Ainda na esperança de que mais cedo ou mais tarde, ela retornará com o mesmo brilho nos olhos de quando eu a avistei. Não mais me importo se seus sonhos tenham mudado ou se a vida a fez mudar a direção de tudo que um dia ela pensou ser o certo. Só quero encontrá-la bem. Se alguém a vir por aí, não a deixe ir, diga que tenho um lugar onde ela pode repousar e ser exatamente quem ela quiser.

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