De amores e desamores



Achei que havia encontrado o amor na casa ao lado. Éramos amigos e muito novos, mas eu achava que aquele sentimento era real e legítimo. Por isso eu gostava muito de brincar de "casinha", onde éramos marido e mulher e as bonecas nossos filhos. Um dia fui embora daquela casa e só voltei a saber dele quando ele já não brincava mais de casinha, agora ele realmente tinha uma casa e uma família para cuidar. Fingimos que só sabíamos o nome um do outro e segui viagem.

O tempo passou e mais uma vez achei ter encontrado o amor. Ele estudava comigo, morava perto da minha casa  e era meu amigo. Eu o achava inteligente, bonito e ignorava o fato dele ter beijado todas as garotas próximas a mim mesmo sabendo dos meus sentimentos, afinal, achei que nosso primeiro beijo (e o meu da vida toda) seria especial e capaz de realizar o milagre de mudar todo resto. Não demorou muito para eu saber que eu era mais uma na extensa lista dele.

Depois, achei que havia encontrado o amor no garoto da carteira atrás de mim. Ele era inteligente, atleta e (eu julgava na época) um dos mais bonitos da sala. Nem preciso dizer que ele era o mais querido de todas as garotas, né? Pois ele era, sabia e amava isso. E eu? Eu era a garota que não era bonita, mas era legal. E garotos nessa idade não procuram a segunda opção, por isso virei cupido entre ele e uma amiga minha.

Estava desiludida quando achei ter encontrado o amor inusitadamente em uma festa. Ele foi literalmente atirado em cima de mim e depois disso não nos largamos mais... Quer dizer, não até ele tocar uma música para mim em um dia e no seguinte nem olhar na minha cara sem me dar mais explicações. Anos depois ele me disse que fui eu quem sumi. E como boa garota que sou, fingi que acreditei.

Achei ter  encontrado o amor no garoto novo da cidade. Por ele, eu ajoelhei e orei para Deus amolecer o coração da minha mãe para que ela deixasse eu namorar mesmo sendo tão nova. Ele parecia a junção do menino mais fofo e inocente que eu havia conhecido. Me falava de casamento e de quantos filhos ele queria. Eu, no auge dos meus 13 anos de sinceridade dizia: "mas quem disse que eu vou me casar com você?" E ele prontamente ignorava e voltava a sonhar como se aquilo fosse acontecer no dia seguinte. Não demorou para que o menino inocente me contasse que para me ver, mentia e roubava o pai, como se aquilo fosse a coisa mais sensata a se fazer. Mais uma vez eu disse adeus e tive de seguir em frente, enquanto ele seguia, graças a Deus, para outro estado.

Pensei ter encontrado o amor no garoto que há anos eu admirava, mas que depois de muito ele também me notou. Ele disse que amava meu estilo, meu gosto musical e minha autenticidade. Porém, me beijou logo após eu dizer que eu não queria ficar por ficar, mesmo eu pedindo para esperar um tempo. Eu na época achei fofo e tenho que dizer que irresistível, só hoje me dei conta de que ele passou por cima da minha vontade e do que eu acreditava. Com o tempo, ele passou a criticar as roupas que antes elogiara, questionar porque eu não era vaidosa como as outras meninas e porque eu não fazia isso ou aquilo diferente. Eu via que não teríamos futuro, na verdade fui avisada e incentivada a acabar eu mesma com tudo, mas não quis. Um dia ele disse que precisávamos conversar, coloquei minha melhor roupa, arrumei o cabelo da melhor maneira, pintei as unhas e ainda desenhei florzinhas (o que o deixou bem surpreso), bem no dia que eu fui feliz ao encontro do nosso término.

Achei que havia encontrado amor no garoto gentil que em nossa primeira conversa, foi capaz de cativar totalmente minha atenção. Ele parecia extremamente inteligente (sim acho que temos um padrão aqui), carismático e por que não, bonito. Se havia tido o amor a primeira vista, em nossas conversas eu perdia mais o controle da situação. Mal sabia eu que esse duraria mais que todos os outros, mas ao mesmo tempo não valeria de nada. Se eu soubesse que viveria um período de abnegação, falta de amor próprio e ilusão, não teria saído de casa com minhas amigas naquele dia. Pensava que ele não se envolvia em relacionamentos superficiais, que só namoraria com a prometida, que se casaria com a mesma e que era o príncipe encantado. Mas depois descobri que o príncipe beijava várias cinderelas acordadas por aí, só não fazia alarde. E eu, gata borralheira, mais uma vez percebi que esse conto de fadas não era o meu.

Pensei ter encontrado amor no garoto que disse estar perdidamente apaixonado por mim. Porém, no momento em que pedi que orássemos por tempo, disse que "quando uma não quer, uma terceira quer". Uma semana depois ele atualizou o status e se dizia louco de amores por uma garota que, inclusive, todos diziam que era parecidíssima comigo.

Pensei que encontraria o amor na história perfeita e sem defeitos que montamos e eu desenhei na minha cabeça para não esquecer. Mas quanto mais o tempo passava, mais eu achava páginas inteiras arrancadas e que não combinavam em nada com a história que eu amava contar com brilho nos olhos. Aos poucos o castelo de areia foi levado pela maré alta de descontentamento do cotidiano e as verdades que com ele vinham. Me perdi, deixei de ser eu. Dei passos atrás ou deixei de os dar, para conseguir acompanhar ele. Porém, nesse ritmo desaprendi a andar e foi necessário reaprender, mas dessa vez mais sozinha do que nunca.

Achei que tinha encontrado amor no garoto que não parava de me fitar, no show de uma banda que eu gostava desde criança, mas que hoje o álbum que eles lançavam na época eu não consigo mais escutar. Eu estava numa vibe "vou curtir a vida" quando ele apareceu. Eu só queria mesmo curtir aquele momento e saber que ele era de outra cidade me animou muito. Porém, quando achei que ele iria embora, ele entrelaçou os dedos nos meus e agiu como se aquele momento fosse durar para sempre. Depois descobrimos que estudávamos na mesma faculdade e foi aí que meu plano desandou. Eu não iria curtir o momento, mas me apaixonar e achar que aquilo realmente iria para frente. Eu acreditei nas mentiras que ele inventava por ter sumido o final de semana inteiro. Eu deixei que ele me chamasse de louca quando a desculpa era tão esdrúxula que nem uma criança conseguia acreditar. Enquanto eu tentava não ser louca, ele conhecia outra garota e a levava à todos os lugares que eu gostaria de ir com ele aos finais de semana. 

Finalmente percebi que o amor estava mais perto do que eu imaginei. Olhei no espelho e notei que eu procurava tanto o amor no outro, que esqueci de buscá-lo em mim. Até porque, em mim sempre foi mais difícil. Mesmo quando pensava achar no outro, percebi que nenhuma das vezes sentia digna do que recebia. Me perguntava o que ele havia visto em mim. Concordava com aquele que escolhia partir ou me trocar pela primeira opção que passasse no meio da rua. Me escondia daquele que poderia ver em mim um par. Acreditava que aceitar erros recorrentes eram melhor do que não ter alguém com erros para estar.

Em todas as vezes que julguei ter encontrado o amor eu errei. Não por não ter encontrado, pois vivi o amor de muitas maneiras e cada uma delas me serviu de aprendizado. Mas errei porque atribui ele ao outro, quando primeiro eu necessitava encontrar em mim.

Dos Tipos de Mulher

Já sonhei ser todo tipo de mulher.

Achei que seria esposa e mãe muito cedo. A realidade da minha família não me permitia sonhar com graduações. Mas Deus tinha um plano diferente para mim. Então sonhei ser graduada. Mal sabia eu que teria no currículo um curso técnico e duas graduações (e logo muito mais especializações - hoje eu consigo vislumbrar essa realidade). 


Apesar de sonhar em formar uma família, confesso que eu admirava muito minhas irmãs. Mães solo que saíram da casa dos pais e me ensinaram que não precisava de um homem para construir nada. Mesmo que a sociedade as tenha julgado tanto, eu tenho orgulho das guerreiras que elas são. Elas não escolheram assumir toda a responsabilidade de uma casa, mas se mantiveram firmes quando foi necessário. Mesmo em situações que muitos não aguentariam.


Não julgue minhas palavras, também e sobretudo, admiro minha mãe. Uma mulher guerreira, esposa, mãe, trabalhadora que já sofreu mais do que eu nessa vida, mas nunca perdeu a fé. Com ela aprendi a amar a Deus e esperar nEle.

Também pude sonhar ao lado de algumas amigas. Cada uma com sua história, suas lutas e vitórias. Com elas aprendi que não preciso ter o mesmo sangue para encontrar uma irmã. Aprendi que as melhores e mais duradouras amizades são feitas de pessoas "diferentemente iguais".

Um dia sonhei ser designer editorial. Trabalhei em assessorias de comunicação e me vi apaixonada pela profissão que havia escolhido. Nesses lugares tive a chance de ter líderes e colegas mulheres. Sem aquela rixa que os filmes românticos mostram. Tenho orgulho de dizer que trabalhei com mulheres que hoje posso chamar de amigas.

De repente, notei que mundo já estava se virtualizado e percebi a necessidade de voltar a estudar para ter uma chance de carreira em uma empresa sólida. Virei estagiária de novo aos 25 anos, dei alguns passos atrás visando pular mais alto. Aí então sonhava ser efetivada. Demoraram 7 meses até meu sonho se tornar realidade. Sigo sonhando galgar maiores posições, sentindo que o tempo continua sendo meu amigo.

Para as mulheres da minha vida, meu muito obrigado por me ensinarem tanto. Um feliz todos os dias. Sigo sonhando um mundo melhor para todas nós.




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